Dicas de espanhol: conheça diferentes sotaques a partir de
filmes
O espanhol é o idioma oficial de 21 países, mas
isso não significa que sua forma seja uniforme. De uma nação para outra, ou
mesmo de uma região de um mesmo país para outra, palavras, modos de pronúncia e
entonação podem variar. "Existem diferenças, mas não chegam a prejudicar a
comunicação. Os filmes, nesse sentido, podem contribuir para identificar o
sotaque e incorporá-lo à sua pronúncia..
Conheça a seguir cinco filmes que podem ajudar na hora de perceber
diferentes tipos de sotaque do espanhol e outras características regionais:
Amores Brutos (Amores Perros, de Alejandro
Iñárritu)
O mexicano indicado ao Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro em 2001 é um bom instrumento de observação do sotaque mexicano. Em
geral, essa região se diferencia pela pronúncia de LL e Y como DJ (assim, o som
de
calle fica cadje, bem como
ayer é pronunciado adjer).
Outra diferença que pode ser mais sensível aos
brasileiros é a realização fonética de S e Z. As duas letras têm som do que
seria, no português, um duplo S. Por isso, asar tem o mesmo som da
palavra no idioma falado no Brasil (assar). Já cerveza (cerveja) seria
pronunciada como cervessa.
Um mesmo sotaque dificilmente abrange todo o
país. O México também registra variações de pronúncia - sem contar dialetos
herdados pelo passado indígena e que podem influenciar na utilização de
determinadas palavras.
Volver (Volver, de Pedro Almodóvar)
Pode-se dizer que Almodóvar é um dos principais
representantes do cinema espanhol e o mais conhecido internacionalmente. Pois
seus filmes também possibilitam ao público tornar-se conhecedor do sotaque da
Espanha. A principal diferença é o uso de
vosotros (2ª pessoa do
plural). Apesar de estar na gramática espanhola, independentemente do país em
que se estude,
vosotros só é utilizado pelos espanhóis. Nos demais
lugares, o emprego de
ustedes (vocês), conjugado como 3ª pessoa do
plural, é mais comum.
Quanto ao sotaque, há variações internas, mas os
espanhóis são conhecidos pela diferença na pronúncia do Z quando combinado com
as vogais, ou de C quando seguido de E ou I. Na região centro-norte do país, o
som de cerveza, corazón (coração) e empecé (comecei) é
pronunciado como se a língua estivesse entre os dentes ao dizer a palavra. No
Sul e nas Ilhas Canárias, a reprodução desses fonemas se aproxima dos falados
na América do Sul. A pronúncia do LL e do Y também muda: é mais comum ouvir-se
caie (som de calle) e aier (ayer).
Para quem deseja ver variações do sotaque
espanhol, outra dica da professora é o filme Mar Adentro, de Alejandro
Amenábar.
Um Conto Chinês (Un Cuento Chino, de Sebastián
Borensztein)
O filme de Borensztein protagonizado por Ricardo Darín pode ser um bom exemplo
da interculturalidade na Argentina. Na trama, um argentino e um chinês têm os
destinos cruzados e passam a conviver sem que um fale a língua do outro. Os
chineses formam uma comunidade bastante considerável no país: estima-se que 125
mil imigrantes dessa nacionalidade vivem na Argentina, 80% na região da Grande
Buenos Aires.
Filmes argentinos costumam ser um bom exercício
de observação e audição de estruturas que são utilizadas especialmente nos
países em torno do Rio da Prata, como o voseo. A prática consiste no uso
do pronome vos no lugar de tú (nessa região, o usted só é usado em situações
formais, próximo ao tratamento "o senhor" em português). "A
diferença está no pronome e no verbo nos tempos presente e imperativo",
ensina a professora Tania Alonso.
Outro aspecto que pode ser observado no espanhol
falado na Argentina é que, de modo geral, o ele (grafado como LL) é
pronunciado com som de X ou CH. Assim, a palavra calle (rua), em uma
assimilação com os fonemas do português, poderia ser dito como caxe. O mesmo
ocorre em palavras que tenham a letra Y, como ayer (ontem), que será
ouvida de um argentino como axer.
Nove Rainhas (Nueve Reinas, de Fabián Bielinsky)
Também protagonizado por Ricardo Darín, o filme narra a história de dois
golpistas que acabaram de se conhecer e decidem participar de uma negociação
milionária. O Lunfardo não é um idioma, mas um vocabulário que surgiu entre as
classes mais baixas da sociedade argentina, especialmente em ambientes
criminosos. "O objetivo era não ser entendido pelas autoridades"
Os termos derivam de misturas com palavras em
italiano, francês e, mais recentemente, até português, e podem ser encontrados
com frequência em letras de tango (estilo musical e de dança que, assim como o
Lunfardo, tem uma origem popular). Algumas palavras foram incorporadas como
gírias e empregadas até hoje, como mina (mulher, garota), guita
(grana, dinheiro) e pibe (garoto, moleque).
Outra prática do Lunfardo que se disseminou na
Argentina é o vesre, o ato de falar palavras com as sílabas invertidas -
a própria denominação vesre é o inverso de revés. "Em vez de falar
gorda, eles dizem dagor. É um fenômeno que acontece também em outros países da
Hispano-América", explica a professora. Outros exemplos de vesre
são goima (para amigo), gotan (para tango) e feca (para
café).
O Banheiro do Papa (El Baño del Papa, de César
Charlone e Enrique Fernández)
Coproduzido entre Uruguai, Brasil e França, o longa retrata o impacto da visita
do Papa João Paulo II, em 1988, a uma cidade uruguaia próxima à fronteira
brasileira. Além disso, é um exemplo para evidenciar pequenas diferenças de
sotaque registradas nesse país. O Uruguai, também localizado na região do Rio
da Prata, também utiliza o vos no lugar de tú, como fazem os
argentinos. A pronúncia de LL e Y sofre uma variação parecida.
O mais comum é observar que palavras com esses fonemas com o som de X. No
caso dos exemplos já citados,
calle se escuta como caxe, e
ayer,
como axer. "As diferenças entre os países rio-platenses são mais
perceptíveis no que diz respeito à entonação e ao léxico".
Por: Professora do Instituto Cervantes de Curitiba, no Paraná, Tania Alonso.